Chegando na China: Uma jornada de ônibus e trem

Nossos primeiros dias na China foram de longas viagens. Ônibus até Jinghong, ônibus para Kunming, trem até Chengdu e outro trem para Xian.


DIA 01/11/2010:

De manhã cedo deixamos Luang Nam Tha, no Laos, e seguimos de ônibus para a China. Cruzamos a fronteira, sem problemas, e por volta das 15:00 chegamos na cidade de Jinghong, na província de Yunnan, no sul da China.

Rapidamente notamos a grande dificuldade de comunicação com as pessoas. Os chineses raramente falam ou entendem alguma palavra de inglês. E, assim, começamos a desenvolver nossas habilidade de mímica. Nosso primeiro desafio foi encontrar um ATM para sacar dinheiro chinês com o cartão de crédito. Vencida esta etapa, voltamos para a rodoviária de compramos passagens de ônibus para a cidade de Kunming para às 20:00.

Assim, tínhamos ainda umas boas horas de espera. Fomos então almoçar em um pequeno restaurante perto da rodoviária. O chão sujo de gordura e de restos de comida logo nos fez perceber que limpeza não é uma característica comum na China. Além da mímica, descobrimos que o guia da Lonely Planet que havíamos pego emprestado no guesthouse de Luang Nam Tha, doado por algum viajante benevolente, nos seria muito útil. Um capítulo com frases e palavras básicas escritas em chinês nos ajudaria ao longo de toda a viagem a pedir o que comer. Enquanto almoçávamos, um rato, sem o menor grau de timidez, também almoçava os restos de comida acumulados embaixo da mesa ao lado. Na China é hábito as pessoas jogarem os restos de comida no chão. Mas apesar de todo este cenário, regido pela sujeira, pode-se dizer que a comida até que estava razoavelmente boa.


No restaurante, em Jinghong, com o guia na mesa, muito útil por ter as frases e palavras básicas para ao menos sabermos pedir o que comer.


De noite deixamos Jinghong e partimos para uma longa viagem rumo à Kunming. Estávamos em um ônibus leito e teria sido uma viagem confortável se não fosse a companhia de nossos colegas. A partir daí aprendemos que cigarro, catarro e vômito é a trilogia que se pode esperar de uma típica viagem de ônibus na China. Os sinais de proíbido fumar e proíbido cuspir parecem não fazer a menor diferença para os chineses. Ao chegarmos em Kunming, no dia seguinte de manhã cedo, o corredor do ônibus estava dominado pela sujeira, com catarradas, pontas de cigarro e restos de comida, como arroz e ossos de galinha.


DIA 02/11:

Kunming, a capital da província de Yunnan, é uma grande cidade, com mais de 2 milhões de habitantes. Era de manhã cedinho e fazia frio. Depois de passarmos meses viajando por países tropicais, debaixo de muito calor, estávamos agora na China, subindo rumo ao norte, em pleno outono.

Chegamos na Estação de Ônibus Sul, de aparência bastante moderna e que parecia ser nova. Nosso próximo desafio era descobrir qual ônibus teríamos que pegar para ir até a estação de trem. Procuramos por alguma informação no saguão da rodoviária e encontramos um balcão escrito “Lnformapion”, que obviamente não pôde ajudar muito.


“Lnformapion”: Será que alguém sabe falar inglês no balcão de informações da rodoviária de Kunming?


Então, começamos a perguntar para as pessoas na rua. Mostrávamos a palavra “estação de trem” escrita em chinês, que tínhamos no nosso guia, na esperança de que alguém nos indicasse algo. Foi difícil, mas depois de abordarmos vários chineses, um homem finalmente nos escreveu no número “154” e apontou para o local onde tínhamos que pegar o ônibus.

Uma vez dentro do tal ônibus número 154, nosso próximo desafio era descobrir onde teríamos que descer. Novamente mostramos nosso bendito guia, com a palavra “estação de trem”, para algumas pessoas dentro do ônibus, até que um homem fez uma mímica dizendo que ele também desceria no mesmo ponto. Assim, quando chegou o momento, descemos do ônibus e fomos seguindo ele, caminhando rapidamente por algumas ruas, sem pronunciar nenhuma palavra. Ele nos levou até a estação de trem, se despediu e seguiu seu rumo para o outro lado. Este cara foi bem legal. Ele estava de terno e andava com pressa, como quem está atrasado para o trabalho. E mesmo assim foi bem prestativo em nos ajudar.

Conseguimos comprar os passagens de trem para Chengdu para às 11:00. Que sorte! Um pouco de espera e logo estaríamos embarcando. Aproveitamos para comer alguma coisa num restaurante ao lado da estação e também comprar algumas coisas para a viagem. Vimos várias pessoas levando noodles (macarrão instantâneo em pote) para a estação e, por isso, desconfiamos que deveria ter água quente no trem. Assim, munidos de alguns noodles, bolachas e uma garrafa de chá com limão entramos no trem. Seria uma longa viagem de cerca de 20 horas.

Descobrimos que viajar de trem na China é bastante confortável. As pessoas parecem respeitar mais com relação à limpeza e ao cigarro. Elas só fumam nas áreas entre um vagão e outro, onde estão os banheiros. Os trens têm serviço de cozinha e também vendem lanches e bebidas. Porém, os preços são mais salgados. Assim, fizemos bem em levar nossos lanches e noodles instantâneos. O trem fornece água quente gratuita e, portanto, a maioria das pessoas também é adepta ao noodles.


Comendo noodles no trem.


DIA 03/11:

Por volta das 6:45 chegamos em Chengdu, a capital da Província de Sichuan, uma grande cidade com mais de 4 milhões de habitantes. O dia estava começando a querer clarear. Desenhamos um ônibus em uma folha de papel e partimos para a mímica. Desta vez, sem maiores dificuldades (talvez por já estarmos mais experientes na arte da mímica), conseguimos confirmar a informação do guia de que era o ônibus número 16 que deveríamos pegar. Mostramos para algumas pessoas a folhinha de papel com o número 16 e um ônibus desenhado e logo descobrimos o local de onde saía. Brincadeira de criança. E assim fomos para o outro lado da cidade, onde estava o hotel de que tínhamos indicação no guia. Instalados, pudemos tomar um banho quente e descansar um pouco da longa viagem.


Comunicação na China: Papelzinho com o “ônibus 16” desenhado.


Mais tarde saímos para almoçar e passear um pouco. Nos surpreendemos com a organização e limpeza da cidade. Chengdu é muito moderna e agradável.

Aproveitamos também para pesquisar preços e informações para ir ao Tibet. Atualmente, os estrangeiros podem somente viajar ao Tibet através de uma excursão, onde, no mínimo, deve estar incluída a taxa de permissão e um guia obrigatório. Já havíamos pesquisado antes a burocracia toda e sabíamos do que era necessário. E essa história nos revoltava um pouco. Nos incomodava a idéia de ter que dar dinheiro ao governo chinês para poder ir ao Tibet. Porém, infelizmente, essa é a única maneira de ir para lá hoje em dia. Estávamos em um dilema. Ir ou não ir?

Chengdu é uma das principais cidades chinesas de onde partem as viagens para o Tibet e onde os preços tendem a ser melhores. Assim, neste dia aproveitamos para passar em várias agência de turismo e pesquisar os preços. Porém, observamos que os valores estavam um pouco acima do que imaginávamos pagar, talvez por ser baixa temporada e não haver turistas suficientes para fechar os grupos. Tínhamos que tomar uma decisão rápida, pois não queríamos ficar muito tempo parados em Chengdu. E assim resolvemos desistir de ir ao Tibet. Ao invés de ir para Lhasa, então decidimos ir para a região chinesa que faz fronteira com o Tibet, onde não é necessário ter nenhuma permissão especial. Esta área geograficamente e culturalmente tem características tibetanas. Está nas montanhas que fazem a borda do planalto tibetano e o povo que vive lá é principalmente tibetano.

Porém, antes de fazer esta viagem pela região próxima ao Tibet, queríamos ir para Xian, onde está o famoso Exército de Terracota, um dos mais ricos monumentos arqueológicos da China. Assim, passamos somente uma noite em Chengdu e, no dia seguinte, já continuamos a viagem.


Chengdu é uma cidade moderna, organizada e limpa.


DIA 04/11:

Acordamos cedo, arrumamos nossas mochilas, deixamos o hotel e pegamos o tal ônibus número 16 de volta até a estação de trem. Novamente tivemos sorte e conseguimos comprar as passagens para o trem que ia sair às 10:00. Assim, embarcamos para mais uma longa viagem. Foram 20 horas até Xian, onde chegamos no dia seguinte de manhã cedo.



DICAS:
- Ônibus de Luang Nam Tha (Laos) para Jinghong (China): 110.000 kip (13,75 dólares). São umas 6 horas de viagem.
- Ônibus sleeper de Jinghong para Kunming: 197 yuan, 12 horas de viagem.
- Em Kunming, o ônibus urbano número 154 vai da Southern Bus Station até próximo da estação de trem.
- Os ônibus urbanos na China são baratos, costumam custar de 1 à 1,5 yuan.
- Viajamos de trem sempre na classe “hard sleeper”, por ser a que oferece o melhor custo benefício. A camas são dispostas em três, uma em cima da outra. Há uma pequena diferença nos preços, onde a cama inferior é um pouco mais cara e a superior é a mais barata. Sempre que possível, é bom comprar as passagens com antecedência. Nós tivemos sorte em encontrar passagens em cima da hora.
- Trem de Kunming para Chengdu: 220 yuan, 20 horas de viagem.
- Em Chengdu, o ônibus urbano número 6 sai da estação de trem, que está na zona norte da cidade, passa pelo centro e segue até a zona sul.
- Trem de Chengdu para Xian: 224 yuan, 20 horas de viagem.
- Nos hospedamos no Traffic Hotel (na rua Binjiang Lu, ao lado da Xinnanmen Bus Station), que oferece quartos duplos com banheiro compartilhado (mas limpíssimo) e com internet wi-fi, de 80 à 100 yuan.
- Um dólar vale aproximadamente 6,67 yuan.

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